domingo, 8 de março de 2009

Quaresma em tempo de crise

Estamos em tempo de Quaresma, o tempo de preparação para a Páscoa que nos convida à caridade e solidariedade.
O Luso Fonias de 28 de Fevereiro procurou saber como se vive a Quaresma nos dias de hoje, nestes dias em que só se ouve falar de crise.
Maria do Rosário CarneiroNão perca a conversa com a Dra. Maria do Rosário Carneiro, vice-presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, sobre como se vive a Quaresma nos dias de hoje.

Na opinião do P. Tony Neves:
«A Quaresma é um tempo muito especial, desde que tomado a sério. Longe vão os tempos em que os rigores do jejum se mediam pelas refeições que ficavam por tomar, a abstinência não admitia excepções na privação da carne e a esmola era tomada a sério, tentando todas as famílias fazer as suas renúncias quaresmais para partilhar com os muitos pobres que existiam e que todos conheciam. Os tempos que correm assentam noutros princípios de vida e não passam muito por privações, para além daquelas que nos são impostas. Dizem alguns – e com alguma razão – que a crise que vivemos já nos obriga a muito jejum e abstinência. Mas esta maneira de pensar e agir é arriscada, pois não criamos mecanismos que nos obriguem a perceber melhor o quanto sofrem os pobres mais pobres. Mas, verdade seja dita e as estatísticas o mostram, é nos tempos de crise e dificuldade que se vê alma solidária das pessoas. A última grande recolha do Banco Alimentar contra a fome constituiu um hino à solidariedade. Foi a maior recolha de sempre e os meios de comunicação social acompanharam esta operação solidária e entrevistaram muitos dos doadores que afirmaram que não tinham muito mas sentiam esta necessidade de repartir bens essenciais com quem tem ainda menos.
Bento XVI, na sua habitual mensagem da Quaresma, foi buscar uma das passagens bíblicas sobre o retiro espiritual que Cristo fez no deserto. E, segundo este texto tão simbólico, ‘Jesus esteve 40 dias e 40 noites sem comer e no fim teve fome’. Pudera! A riqueza deste texto está no facto de não se falar só de uma fome física, mas também espiritual. Conclui o Papa que a fome de Deus, a fome de Justiça, a fome de humanidade é tão ou mais grave que a fome de pão. Aliás, para estar de acordo com o Papa, basta olhar para o mundo em que vivemos e para as relações entre os povos. As pessoas contam muito pouco porque os bens materiais, os interesses económicos contam muito mais. Chega-se ao limite do ridículo e do imoral quando esmagamos pessoas para ganhar dinheiro, como acontece quando estão em causa os petróleos e diamantes do nosso mundo.
Dar sentido humano à vida é o mais importante neste tempo de Quaresma. São 40 dias intensos de oração, de conversão aos valores do Evangelho, de partilha solidária com quem mais precisa. Vale a pena despir-nos da mentalidade interesseira dos tempos que correm para nos vestirmos de uma humanidade que a todos respeite e que, pela justiça, traga de volta a dignidade a quantos se sentem espezinhados nos seus direitos.»

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