quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Cuidar dos avós

Diz o ditado que os avós são pais duas vezes. Se com os filhos havia alturas em que eram severos, com os netos são amorosos e fazem-lhes todas as vontades. Na maior parte dos casos, as melhores recordações de infância estão associadas aos avós, quer seja a contar uma história antes de ir para a cama ou num momento especial.
A experiência de vida dos mais velhos pode ser extremamente enriquecedora na nossa vida. No entanto, será que sabemos cuidar dos nossos avós? Será que os recompensamos pelo bem que nos fizeram?
Em Os Miseráveis, Victor Hugo dizia que: «A miséria de uma criança interessa a uma mãe, a miséria de um rapaz interessa a uma rapariga, a miséria de um velho não interessa a ninguém». A verdade é que todos querem viver mais, mas ninguém quer ser velho… E porque é que isto acontece? Porque motivo é que à palavra velho estão associados tantos preconceitos e tabus, se nos mais velhos há a sabedoria e a experiência da vida?
O Luso Fonias de 4 de Outubro contou com uma emissão dedicada aos nossos idosos. Não perca a entrevista ao Professor Doutor José Ferreira Alves, representante em Portugal da INPEA – Rede Internacional de Prevenção da Violência Contra as Pessoas Idosas.

Na opinião do Pe. Tony Neves:
«O mundo não anda todo ao mesmo ritmo nem mostra o mesmo rosto. Assim, olhamos para um hemisfério norte envelhecido onde o nível de vida é, globalmente, alto e as estatísticas provam que há poucas crianças e jovens e muitas pessoas de idade avançada. No sul, a realidade mostra o contrário: são muitas as crianças e os jovens e, em termos percentuais, poucas as pessoas idosas. Este panorama poderia não dizer nada, mas tem tido consequências desastrosas, sobretudo a norte. Assim, são cada vez mais numerosos os casos de pessoas idosas que são mais ou menos abandonadas após anos e anos de dedicação incondicional às suas famílias. Na hora da chegada dos limites físicos e dependências várias, os poucos adultos e jovens da família acham-se impossibilitados de os manter em casa e os mais velhos ficam condenados a terminar os seus dias num lar qualquer para onde foram mais ou mais empurrados. Quem visita Lares de 3ª Idade percebe isto: os idosos estão lá porque as famílias não têm condições para os manter nas casas onde, muitas vezes, nasceram e cresceram e fizeram nascer e crescer os filhos. E não vale a pena fazer juízos de valor nem atirar pedras a ninguém porque, verdade seja dita, a maneira como se organizam as sociedades ocidentais não dão alternativas às famílias.
Mas, diante destes cenários com muita desumanidade á mistura, não há que vergar diante de fatalismos nem cruzar os braços. Há soluções. Há formas humanas e fraternas de cuidar dos avós sem os abandonar aos seus limites e debilidades do entardecer da vida. Se as famílias os puderem manter em casa, no ambiente de ternura onde eles se sentem bem, rodeados dos filhos e netos, será excelente. Se for necessário levá-los para espaços onde o acompanhamento é exigido, então que os filhos e netos não passam um ou dois meses (ou até mais) sem irem lá dar um abraço e dois dedos de conversa. O amor exige atitudes e não vale a pena escudar-se atrás do muito trabalho para fugir da responsabilidade que se tem de amar até ao fim aqueles que deram tudo, ou quase tudo por nós. Amar os nossos avós é, antes de mais e acima de tudo, um acto de justiça.»

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