quarta-feira, 31 de outubro de 2007

As minorias étnicas na comunicação social

Nos últimos anos, o fenómeno da imigração adquiriu uma grande visibilidade na sociedade portuguesa. Portugal, que sempre foi um país de emigrantes, tornou-se em poucos anos, num país com uma notável percentagem de população activa constituída por imigrantes. O fenómeno repercutiu-se nos media. E, já que a 27 de Outubro se celebra o Dia Mundial dos Jornalistas pela Paz, o Luso Fonias de 28 de Outubro aproveitou a comemoração para uma conversa sobre como as minorias étnicas são retratadas na comunicação social e entram na agenda mediática.
Em estúdio esteve a Professora Doutora Isabel Ferin da Cunha, licenciada em História pela Faculdade de Letras de Lisboa, Mestra e Doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo, Brasil, e Pós-Doutorada em França. Coordena, desde 2002, uma equipa de investigação que desenvolve com o Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural (ACIDI) o Projecto Media, Imigração e Minorias Étnicas.

Segue o comentário do Pe. Tony Neves:
«Quando, há uns anos atrás, os meios de comunicação social diziam que houve um assalto em Lisboa à mão armada, sabíamos que ele tinha sido feito por alguém de raça branca. Porque era muito comum dizer-se que ‘um cigano assaltou uma loja’ ou ‘um indivíduo de raça negra matou alguém numa confusão qualquer’. Esta forma racista e xenófoba de dar as notícias está ultrapassada, pelo menos em termos teóricos. Mas permanecem outras formas de descriminação que têm a ver com preconceitos que só o tempo pode varrer da nossa história e da nossa memória.
Assim, não é comum vermos jornalistas de outras cores que não as predominantemente europeias a apresentar telejornais ou a coordenar os grandes programas de animação e diversão televisivas. Conheço alguns nas rádios, lá onde apenas a voz se ouve.
Lembro-me, há anos, numa reportagem que fiz nas montanhas indígenas do México, incluindo a famosa região dos Chiapas, alguém me dizer que os povos originários dali (os indígenas) estavam revoltados com o governo central da cidade do México porque, na televisão estatal todos os rostos eram hispânicos ou, como eles gostavam de dizer, eram ‘gringos’, uma referência negativa aos americanos de origem europeia.
Já vai sendo tempo de as pessoas serem escolhidas pelo valor que têm, pela competência demonstrada, pelas habilitações adquiridas. Enquanto as pessoas forem avaliadas pela cor que têm, pela origem, e escolhidas por critérios de preconceito, o mundo não avança. Eu, como Martin Luther King, continuo a sonhar com o dia em que todos seremos olhados como pessoas, iguais em dignidade, direitos e deveres, construtores de um mundo humano e fraterno. E a comunicação social continua, a este título, a desempenhar um papel fundamental. De que nunca se pode demitir.»

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